Sabe quando acontece tudo ao mesmo tempo e te joga no meio do furacão? Pois é.
Ano passado em novembro Carmen foi chamada pela Prefeitura para uma creche nova conveniada que se revelou uma grande roubada – entrou em uma “adaptação” que consistia deixar as crianças chorando desconsoladas na escola sem a presença dos pais por um mês,  daà disseram que haveria 15 dias de férias,  daà as aulas voltariam só no começo de fevereiro. Aà no começo de fevereiro ela teve aula dia 4 e dia 5 a perua trouxe todo mundo de volta pra casa porque segundo a diretora “os professores não apareceram” e pra voltar depois do Carnaval. Como assim,  sumiram sem dar satisfação?  A diretora, RESPONSÃVEL PELA CRECHE,  não sabia dizer mais nada. Legal, só que não. Eu pretendia voltar a trabalhar em fevereiro,  imagine as mães que já trabalham lidando com isso,  explicando pros chefes… Chega quinta-feira pós Carnaval e parece que as coisas normalizaram, mas noto coisas como não trocarem a roupa da Carmen ou a agenda em branco. Na semana seguinte recebo uma ligação da Secretaria de Educação avisando que Carmen havia sido transferida e não deveria mais ir na outra escola. A nova escola?  Justo a que eu havia feito a inscrição da Carmen um ano e meio atrás.
Enquanto isso… a última aplicação do Depo Provera deu revertério com meu remédio e eu comecei a passar mal sempre que tomava ele e a ter enxaquecas de escurecer a vista. Passei fevereiro inteiro passando mal, não podendo dar a atenção que eu queria pro Gabriel,  não tendo um lugar de confiança pra cuidar da Carmen por algum tempo pra poder ir ao médico e sem poder pedir pro Rafa dividir a carga comigo porque ele estava sobrecarregado de trabalho.
No meio disso tudo,  Carmen voltou a ter cárie. Em todos os quatro molares. Mal começou a adaptação na nova escola (decente,  comigo presente), voltou a ir ao dentista e recomecei o desmame noturno.
No começo de março, Carmen se adaptando na nova creche, lá fui eu fazer todos os exames e consultar todos os médicos que não pude ir antes. Nem tinha uma semana do desmame noturno começado quando o neurologista me solta duas bombas: a enxaqueca forte do último mês foi sim causada pelo anticoncepcional e vou ter de escolher um novo método contraceptivo… e trocar de antidepressivo significaria interromper o mamá da Carmen, de vez, assim que eu começasse com o novo remédio.
É interessante como racionalmente você entende tudo, mas emocionalmente dói tanto… Eu havia me preparado para fazer um desmame gradual, talvez terminando lá pelos 2 anos e meio… mas entre ficar bem de saúde pra cuidar direitinho da pequena e continuar amamentando e tendo enxaqueca todo dia, o dia inteiro acho que a escolha é óbvia.
Desmamar a Carmen de vez acabou acontecendo naturalmente porque eu já estava com os seios muito machucados pela fricção dos dentes dela… acabou sendo pelo método “o mamá da mamãe tá com dodói”, que eu detesto, mas não é mentira, já que eu realmente estava machucada. Ela aceitou de boa, e, tadinha, quando lembra do peito pergunta: “mamá sarou? mamãe tá bem? tá melhor?” Eu tenho explicado que tá melhor sim mas acabou o leite. Ela não se aperta e na sequência pede a mamadeira.
Hoje faz quase um mês que desmamei a Carmen. E eu fui tomar banho e vi que o leite secou. Naturalmente, sem tomar remédio. E eu estou me sentindo muito… então é isso, é definitivo, sabe? Inevitável. Acabou. Eu sinto falta de amamentar, muito. Do aconchego, do cheirinho, do calor. Mas minha bebêzinha não é mais tão pequena. É uma menina conversadeira de dois anos. O ato de amamentar foi substituÃdo pelo concheguinho de mãe. Enquanto essa menina couber nos meus braços, até ela crescer e voar como fez o Gabriel.
O curioso é que antes, enquanto eu estava amamentando, eu tinha aqueles dias de ficar de saco cheio e ficava planejando o que ia fazer quando a Carmen desmamasse. Voltar a doar sangue. Fazer novas tatuagens. Voltar a tomar cerveja. Operar a miopia. Só que ainda não caiu a minha ficha. Tem um mês que eu desmamei e a minha identidade ainda é “mãe que amamenta”. Eu não sinto vontade de comprar uma bebida alcoólica quando vou no mercado. Eu evito cosméticos ou remédios que possam fazer mal pra Carmen. Outro dia fiquei zangada porque um homem estava fumando perto de mim, mas o cigarro não vai passar pro leite, porque não tem leite. Foi um ato reflexo. Hábito. Passei 9 meses grávida, 2 anos amamentando e agora não sei como ser separada. Hora de me reinventar.
Aà na semana de aniversário da Carmen chegou um bilhetinho na agenda da escola avisando que começaram o desfralde. Mas isso é tema pra outro desabafo.
P.S.: As enxaquecas passaram com a troca de medicamento e todos os exames tiveram resultados normais.